segunda-feira, 9 de março de 2009

Crítica do filme "Watchmen - O Filme"

Eu mal acredito, mas nesse fim de semana eu FINALMENTE assisti um filme adaptado de WATCHMEN!!! (Para entender meu entusiasmo, leia “Quis custodiet ipsos custodes?”, postado em 16/02/09)


Watchmen – O Filme conta a história de um mundo alternativo onde heróis mascarados teriam combatido o crime até serem proibidos de fazê-lo. Mas os vigilantes são lançados de volta à ativa após o assassinato de um deles. Isso superficialmente, de fato, a proposta do filme, assim como da obra inspiradora, é analisar psicologicamente quem seriam essas pessoas dispostas a se fantasiar e sair por aí brigando com bandidos e como eles se relacionam um com os outros e com o mundo ao seu redor.

Eu confesso que, como fã das revistas, estava bastante apreensivo quanto a essa adaptação, uma vez que o texto já havia sido chamado de “infilmável” diversas vezes e eu tinha medo de que Hollywood fosse transformar a trama em mais um filme de ação de superheróis. Mas felizmente isso não aconteceu. Esse é um filme adulto que explora o lado mais negro de como as pessoas agem, uma vez que se consideram superiores ou responsáveis pelas outras. Como traçar limites? Como não se distanciar das demais pessoas? E isso tudo sem perder o suspense da trama.

Primeiro de tudo, vale confirmar que essa é a adaptação mais fiel possível que o livro poderia ter tido. A história foi razoavelmente reduzida, tramas menores e personagens secundários foram cortados, mas a adaptação continua fiel ao conceito original e isso que importa. Seria impossível querer contar tudo que o original conta, isso acabaria prejudicando o filme que já é bastante denso como ficou.

Assim, Watchmen - O Filme pede atenção total da platéia durante suas quase 3 horas, a tela é cheia de detalhe e as personagens estão quase ininterruptamente servindo informação. E o filme não é para o fraco de estômago, braços são decepados, tripas voam pelos ares, pernas são perfuradas por balas, etc. Mas tudo maravilhosamente fotografado por Larry Fong, que também foi o cinematógrafo de 300, e com impecável direção de arte, que marca as diferentes épocas que o filme cobre.

As coisas que parecem ser mais criticadas pela Internet são: a maquiagem para envelhecer os atores, o final que foi modificado, o mau sincronismo da boca do Dr. Manhattan e seu pinto CG balançante. Nenhuma das coisas me incomodou tanto. Tudo bem, em alguns pontos a maquiagem era menos que perfeita, mas ainda assim, cumpriu seu papel e na maioria das vezes muito bem, e quanto a computação gráfica de Dr. Manhattan, não percebi grande falta de sincronismo, e o membro em questão era da mesma cor do fundo! Era visível, mas para alguém se incomodar com aquilo, deveria estar realmente focado naquilo.

A questão do final é mais complicada. Segundo o diretor, Zack Snyder, o final foi modificado porque se permanecesse como nos quadrinhos ele teria que contar toda uma outra história que adicionaria mais uns quinze a vinte minutos no já estourado tempo. Eu gosto do final original, mas tenho minhas dúvidas se funcionaria no cinema. Somos mais permissivos a certas idéias no papel do que vendo “na verdade”. Eu achei que o novo fim foi muito bom.

Patrick Wilson (Dan Dreiberg/Coruja II) mostra mais uma vez que é muito talentoso perfeito para viver o papel daquele cara meio normal, que é bonito, mas não bonito demais. Wilson é perfeito no papel trazendo uma realidade patética ao herói que mente para si mesmo dizendo que não sente falta das noites de heroísmo.

Malin Akerman (Laurie Júpiter/Espectral II) é o elo fraco da corrente. Eu já sabia. Todo mundo sabia. Ela é linda, mas foi a única no elenco que eu gostaria que tivesse feito mais. Por sorte, o papel de Laurie é o de uma menina que nunca passou da fase de “aborrecente”, reclamona e sem muito conteúdo, então Akerman consegue convencer em algumas cenas, mas não espere dela nenhuma interpretação “Streepniana” nas cenas mais emotivas.

Matthew Goode (Adrian Veidt/Ozymandias) foi muito criticado e provavelmente o que os fãs menos aprovaram, mas eu acho que ele trouxe uma verdade para um personagem muito difícil. Me senti mais ligado ao Ozymandias do filme do que eu nunca senti pelo da revista. Goode entende o personagem e dá a ele um ar de estrela de roque, que desfila pela vida olhando para o resto dos seres inferiores que o cercam.

Billy Crudup (Dr. Manhattan/Jon Osterman) aparece pouco no filme em sua própria carne, mas suas feições perfeitamente reproduzidas por computador dão alma ao único herói com superpoderes de Watchmen - O Filme. Eu gostei muito do que Crudup faz aqui, sempre imaginei a voz do Dr. Manhattan como uma voz superpotente e amplificada, mas a voz suave e fraca de Crudup dá ao superherói uma disconectividade de um professor de física com pósdoutorado obrigado a ensinar física quântica a uma turma de primeira série.

Jeffrey Dean Morgan (Eddie Blake/O Comediante) é quem sai desse filme como uma nova estrela. O ator, conhecido apenas da TV, dá uma sensibilidade ao personagem que as
palavras no quadrinho não conseguem. Como você faz para que o público se importe com um personagem que o próprio capitão Nascimento chamaria de fascista, que bate em mulheres, estupra, mata criancinhas? Você chama Morgan para interpretá-lo, pois isso é exatamente o que ele faz aqui. Ele é um homem podre, mas incrivelmente charmoso.

Jackie Earle Haley (Rorschach/Walter Kovacs) é Rorschach. Ele deixa o público sem palavras perante seu retrato do vigilante psicótico que narra a maior parte da história. Haley faz o maior fã de Watchmen acreditar que Dave Gibbons ilustrou o personagem pensando nele vinte e dois anos depois, da maneira como ele toma esse personagem. Sem dúvida esse trabalho firmará a carreira do antigo ator infantil como um grande ator de personagens. As cenas mais memoráveis e aplaudidas do filme se dão quando Haley, enlouquecidamente, grita pela seu rosto, após a polícia ter arrancado a máscara de Rorschach; quando ele professa a fala tirada da própria revista avisando os outros detentos “eu não estou preso aqui com vocês, vocês estão presos aqui comigo!”, e quando ele vai ao banheiro atrás da Grande Figura. Memorável.

Se tem uma coisa que eu não estou 100% certo quanto ao filme é a trilha sonora. Acho que em certas músicas Snyder acertou em cheio, como é o caso de “Times They Are A-Changing” de Bob Dylan na abertura do filme, de "Unforgettable" de Nat King Cole durante a execução do Comediante, ou de “All Above The Watchtower” do mesmo Dylan, mas na versão de Jimi Hendrix marcando com perfeição o início do terceiro ato. Por outro lado, “Sound of Silence” de Simon & Garfunkel na cena do enterro e “Hallelujah”, celebrando o coito aéreo entre o Coruja e Espectral, parecem extremamente piegas e dão ar de filme de YouTube ao longa. E ninguém mais deveria usar “Pirate Jenny” sob uma cena no Vietnã, acho que se “Hallelujah” e “Pirate Jenny” tivessem sido trocadas de lugar elas funcionariam melhor.

O motivo que o diretor deu por ter usado a última música na cena do Vietnã é porque um trecho dela aparece no livro original, já que a música menciona a Black Freighter, navio pirata da opereta original, e na revista em quadrinho na qual o filme é baseado existe um personagem que lê uma revista chamada “The Tales of the Black Freighter”, que conta uma história de um náufrago que ultrapassa todos os tipos de desafios para voltar para casa e salvar a mulher e filha de piratas que estão a caminho para matá-las, mas o náufrago acaba acidentalmente matando as duas e depois se uni aos piratas. A história em quadrinhos dentro da história em quadrinhos seria uma crítica direta a ação americana na guerra do Vietnã.

Finalmente, eu assisti ao filme sendo fã da obra original, com um amigo que gosta de quadrinhos, mas nunca leu a obra, e minha namorada que nunca leu quadrinhos. E o filme funciona para todos os públicos. Todavia, não vá ao cinema achando que verá um filme de superheróis qualquer, ou um filme como Batman – O Cavaleiro das Trevas. Não é o caso. Enquanto o último filme do morcegão se esforçava para mostrar como seria um superherói no nosso mundo, Watchmen – O Filme, mostra como o mundo seria caso houvessem superheróis.

4 comentários:

Mariana disse...

Não sou fã de quadrinhos, não conhecia Watchmen. Mas acho que o filme merece ser visto não só por ser uma grande produção e que está recebendo críticas positivas, mas por ser sempre um desafio adaptar uma obra literária (seja ela de qualquer estilo) para o meio audio visual (TV, cienma, etc). A proposta é audaciosa, mas na minha humilde opinião, foi bem sucedida. Há cenas com um toque ácido de humor (isso me agrada). Além dos belos efeitos especias! Não entendo de HQs e meus conhecimentos de cinema são apenas de espectadora, então não posso tecer críticas mais pronfudas. Porém, enquanto curiosa e pessoa q adora ser supreendida, esse filme superou minhas expectativas!

Ah, te amo!
bjs

Rodrigo Tavares disse...

Proibição de Super-herois, volta a ativa apos ponto critico...
O enredo me parece com Os Incriveis da Pixar.
rs.

teoriasrabugentas disse...

No caso, meu caro Diguinho... Os Incríveis parece com Watchmen... hehehehe

Eu sou Pedro disse...

Brad Bird, criados de OS INCRIVEIS, ja disse em mais de uma ocasiao que WATCHMEN foi a inspiracao para a animacao.