segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Quis custodiet ipsos custodes?




Em 1986 e ‘87 a DC Comics lançou a minissérie Watchmen, escrita pelo incrivelmente inspirado, e também rabugento, Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons. A série discutia as conseqüências que superheróis teriam no nosso mundo se fosse verdade. Nela, os heróis tem falhas morais, sonhos, medos e desejos como qualquer pessoa normal. Watchmen foi um sucesso que revolucionou a maneira de se fazer e ler quadrinhos e, até hoje, é a única revista em quadrinhos a entrar na lista da revista americana Time como uma das obras literárias mais importantes da história.

E com o enorme sucesso da revista, logo começaram a falar em um filme. Lembremos que é em 1987 que sai o quarto, e terrível, filme da série Super-Homem com Christopher Reeves e em 1989 sairia o Batman de Tim Burton, então filmes de superheróis já estavam na cabeça dos produtores hollywoodianos.

Em 1988, os produtores Lawrence Gordon e Joel Silver compram os direitos para que o filme fosse feito e distribuído pela Fox. Primeiramente, Gordon e Silver tentaram chamar o autor da série, Moore, para escrever o roteiro. Digamos apenas que Moore não é amigável a Hollywood.

O filme rodou pela Fox sendo escrito e reescrito até que em 1991 Watchmen passou para a Warner Bros., que assinou Terry Gilliam, diretor de Brazil, o Filme e Os 12 Macacos, como diretor e o roteiro mais uma vez foi ser reescrito. Dessa vez, Gilliam e Silver não conseguiram financiar o filme e Gilliam abandonou o projeto dizendo que o Watchmen era “infilmável”, ele disse que se a história fosse reduzida para um filme de duas horas e meia perderia a sua essência. Logo em seguida, a Warner Bros. abandonou o projeto. Gordon ainda convidou Gilliam de volta para fazer o filme independente, mas o cineasta recusou, acreditando que Watchmen seria melhor contado como uma minissérie de cinco horas.

Em 1997, já um ávido leitor de quadrinhos, eu leria Watchmen pela primeira vez. Quadrinhos nunca mais foram os mesmos.

O filme permaneceu sem casa durante os anos que seguiram, embora o produtor Lawrence Gordon continuasse acreditando no projeto. Em 2001, Gordon se uniu ao produtor Lloyd Levin e levou o filme para os estúdios da Universal, onde foi trazido David Hayter, roteirista do grande sucessso do ano anterior e responsável pela nova onda de filmes de superheróis X-Men, para servir de roteirista e diretor. Após disputas de poder e brigas, os produtores e Hayter deixaram a Universal e levaram Watchmen com eles. Gordon e Levin tentaram, então, levar o filme para o Revolution Studios, mas o estúdio de menor porte não conseguiu manter o projeto andando.

Em 2004, foi anunciado que a Paramount Pictures iria produzir o filme com Darren Aronofsky, dos geniais Réquiem para um Sonho e O Lutador, dirigindo o roteiro escrito por Hayter. Mas Aronofsky abandonou o projeto para focar no filme A Fonte da Vida. Paul Greengrass, Vôo United 93 e os dois últimos filmes da série Bourne, substituiria Aronofsky na direção, mas a Paramount logo desistiu do projeto e Watchmen voltou para o limbo cinematográfico.

Os produtores, em 2005, retornaram com o projeto para a Warner Bros., ainda com Paul Greengrass. A idéia era de atualizar a estória, que na revista se passa em 1985 e lida com a Guerra Fria, para os dias atuais e as tensões com terroristas. Felizmente, Greengrass desistiu do projeto e o roteiro ficou perdido pelos corredores da Warner. Em 2007, outro filme baseado em uma minissérie de quadrinhos teve uma adaptação cinematográfica e fez um tremendo sucesso. O filme foi 300, dirigido por Zack Snyder. Um nerd confesso e fã de quadrinhos, Snyder usou ilustrações da série original como storyboards e fez do filme uma verdadeira febre. Logo, o diretor foi chamado pelos executivos da Warner que lhe ofereceram Watchmen para ser seu próximo projeto.

Snyder trouxe o roteirista Alex Tse, que usou partes do roteiro de Hayter e se manteve fiel à estória original dos quadrinhos, e atores não muito reconhecíveis para viver os personagens icônicos.




Mas não pense que a saga de Watchmen acaba aí. Antes mesmo dos primeiros quadros de celulóide rodarem, o autor Alan Moore foi à imprensa e disse que era contra o filme, que acreditava que Watchmen era uma estória que funcionava como quadrinhos e ponto, e disse que não queria nem receber os direitos autorais pela obra, passando a parte que lhe era devida ao desenhista Dave Gibbons.

Pouco depois do término da fotografia principal do filme, a Fox, estúdio que comprara os direitos em 1988, entrou com um processo alegando que ainda detinha os direitos de distribuição sobre a adaptação da minissérie e pretendia impedir a distribuição do filme feito pela Warner Bros. Os dois estúdios firmaram um acordo após o juiz de primeira instância dar um veredicto favorável a Fox.

Uma história em quadrinho feita há mais de vinte anos atrás mudou a maneira como os quadrinhos são feitos e como os superheróis são vistos. Finalmente, depois de vinte e um anos de trabalho, Watchmen chegará aos cinemas no dia 6 de março de 2009.

O poeta romano Juvenal disse, quis custodiet ipsos custodes?, Alan Moore traduziu para who watches the watchmen? ou “quem vigia os vigilantes?”. Sabe quem? Em 6 de março, o mundo todo.





Um comentário:

teoriasrabugentas disse...

Boa, Pedro! Deu pra entender toda a saga da história aí... boa mesmo! O melhor foi o "também rabugento". Provavelmente não foi a intenção, mas me senti citado também... ehehehee Alan = Rabugento! Bem, no mais, vê se lembra de entrar lá no Teorias Cobaslísticas! abraço!