sábado, 4 de outubro de 2008

A morte segundo Charlie Kaufman

Após nos mostrar o que se passa na mente do ator John Malkovich, se adaptar em uma personagem, nos levar para passear pelo lado selvagem de nossa natureza, e expor uma mente sem lembranças, o roteirista Charlie Kaufman faz sua estréia como diretor com o filme “Sinédoque, Nova Iorque”.

“Sinédoque, Nova Iorque” foi o primeiro filme que eu assisti da corrente edição do Festival do Rio, e, como não é de se estranhar para alguém que conheça a obra de Kaufman, o filme é bastante estranho. O filme é uma análise da relação do ser humano com a morte. Uma relação de certeza do que vem e ainda assim de lutar contra. Parafraseando o próprio Kaufman em uma das falas do filme, eu vou morrer, e você também vai. Nós todos vamos morrer, mas ainda assim fingimos que isso não acontecerá.

Sinédoque é a relação de compreensão de se tomar a parte pelo todo ou o todo pela parte, e é exatamente isso que as personagens do filme fazem. Confundindo o que é real pelo fictício e pelo criado, agarrando as pequenas coisas como fundamentais na luta para se agarrar ao que eles não querem perder, a vida.

Charlie Kaufman já se firmou como um dos maiores roteiristas do cinema contemporâneo justamente pela habilidade de contar histórias complicadas de uma maneira não ortodoxa, em relação ao grande cinema hollywoodiano, então não vou me alongar defendendo o roteiro do filme em questão. O filme não é fácil de ser entendido, e nem deve ser já que seu objeto não o é. Porém o estranho humor do autor está sempre presente e os diálogos são brilhantes.

Phillip Seymore Hoffman é brilhante como o protagonista, um diretor teatral que apesar do sucesso profissional assume o estigma de fracassado. Hoffman, que nunca decepciona e só se torna mais interessante com o passar do filme, é ainda cercado por um elenco de apoio fenomenal com grandes interpretações principalmente das atrizes que vivem as mulheres ao redor do diretor.

A direção de Kaufman não revoluciona como seus roteiros, mas também não falha. É uma direção honesta que complementa bem a história. No final, um bom filme que, assim como a obra do roteirista Kaufman, vale a pena ser assistido algumas vezes para que se perceba suas pequenas observações.

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